‘Do mesmo modo, há angústia no sexo. O sexo mostra o homem ferido, partido e incapaz de alcançar a plenitude verdadeira através da união. Ele manda o homem ir para um outro lugar, mas ele retorna uma vez mais para si mesmo e a angústia de seu anseio pela unidade continua não aliviada. O desejo de totalidade não consegue ser satisfeito através do sexo; pelo contrário, ele serve apenas para aprofundar as feridas da desunião.’ A palavra ‘sexo’ é de origem latina – sexus, que significa divisão. Sexo divide. Promete unir, mas nunca une. Na realidade, ele divide. Mas há um grande desejo no homem de ser unido. A criança no útero da mãe está unida com a existência. Ela não tem uma realidade separada. Ela é parte do todo. Ela não tem uma personalidade, nem uma consciência mais elevada. Ela é, mas ainda não é um ego. E isso permanece como o nosso mais profundo anseio – como entrar no útero da existência novamente. Psicanalistas dizem que o esforço do homem para penetrar na mulher quando faz amor é, na verdade, um esforço para entrar no útero novamente. E há alguma verdade nisso. Como entrar naquele estado de calma absoluta, quietude, quando o ego ainda não foi acionado, quando tudo está em paz e harmonia? Quando um homem e uma mulher se unem em amor, eles estão tentando criar uma unidade – por isso a atração pelo amor e pelo sexo. Mas isso nunca acontece. Ou acontece apenas por tão pequena fração de segundo que realmente não importa se acontece ou não. Na verdade, pelo contrário, cria mais desejo pela unidade – mais desejo e mais anseio pela unidade suprema. E, todas as vezes, a frustração vem à tona. Se você tiver olhos para ver e coração para sentir, você ficará triste; toda vez que estiver apaixonado, você ficará triste. Novamente a promessa e de novo você sabe que não será realizada. Então, o que fazer? Deixe a sua tristeza no amor tornar-se a peregrinação para a oração. Deixe essa experiência de tristeza tornar-se uma grande meditação em profundidade. Primeiro você tem que dissolver o ego em seu próprio ser interior; você não pode dissolvê-lo em ninguém mais. Ele voltará. Apenas por um momento você poderá criar um estado de esquecimento. O sexo funciona como álcool, um álcool natural. É fornecido pela química do corpo, mas é tóxico, é uma droga. É uma química como o LSD, a maconha – a única diferença é que ele é bio-química, já é fornecido ao corpo pela natureza. Mas é um fenômeno químico. Através da química você tem um vislumbre. Isso é o que acontece quando você toma LSD – através da química, você tem um vislumbre. É isso que acontece através de todos os tipos de tóxico – por um momento você se esquece de si mesmo.Mesmo esse esquecimento momentâneo abre uma janela. Mas esquecimento não é uma dissolução. Você não está dissolvido. Você está lá, esperando. Quando o efeito da droga acabar, o ego o agarrará novamente. O ego tem que ser dissolvido, não esquecido. Essa é a tristeza do amor: o ego é apenas esquecido e só por um momento. Em seguida ele volta. E volta vingativo. Por isso você encontrará amantes brigando continuamente. O ego torna-se ainda mais sólido, cristalizado. E é por isso que você encontra amantes pensando em termos de o outro o estar enganando. Ninguém está enganando. Mas você desejou, esperou, fantasiou um estado de unidade, e você estava pensando que aquele grande êxtase iria acontecer, e não aconteceu – alguém o enganou. É claro, naturalmente, o outro torna-se o objeto. E o outro também pensa do mesmo jeito – que você o enganou. Ninguém está enganando. O amor enganou vocês dois. A inconsciência os enganou. A química enganou vocês dois. O ego os enganou. Se vocês compreenderem, não brigarão um com o outro. Essa revelação da tristeza através do amor se tornará uma revolução, uma mudança radical em sua vida. Você começará a se mover em uma nova direção onde o ego possa ser dissolvido. O sufismo é isso – como dissolver o ego. E o amor dá grandes insights. Por isso eu sou totalmente a favor do amor. Mas, lembre-se bem, você tem que ir além dele. Sou totalmente a favor dele, para que você possa ir além. Ele tem que se tornar um trampolim. Não sou contra o amor, porque as pessoas que são contra ele permanecerão abaixo dele, nunca irão além. As pessoas que não conheceram o momento extático do amor não conhecerão a tristeza dele – como podem conhecer? Um monge vivendo em um mosteiro católico ou um muni jaina levando uma vida asceta – como eles vão conhecer a tristeza do amor? Eles renunciaram ao amor. E, nessa renúncia, eles renunciaram à tristeza também. E sem conhecer a tristeza do amor você não pode voar para o mundo da oração ou da meditação. Essa experiência é uma grande necessidade. Algumas coisas mais... A tristeza que o amor traz é muito potencial, muito profunda, muito saudável, muito útil. Ela o levará a Deus. Por isso, não a encare negativamente, use-a. Essa tristeza sentida no amor é uma grande bênção. Ela simplesmente lhe mostra que a sua aspiração está além da capacidade do amor, sua aspiração é pelo supremo. O amor pode lhe dar apenas uma satisfação momentânea, mas não uma satisfação eterna. Sinta-se grato pelo amor ter-lhe dado uma satisfação momentânea e ter-lhe feito consciente de uma tremenda tristeza dentro de você. Quando as pessoas estão juntas no amor, elas se sentem muito sozinhas. Ninguém jamais sente tanta solidão quanto os amantes. Você pode se lembrar disso? Enquanto sentado, segurando a mão de sua bem-amada numa noite de lua cheia, você não sentiu isso? – totalmente sozinho. O outro está lá, você está lá e ambos estão um para o outro, não há nenhum conflito – e, mesmo assim, não há nenhuma ponte. Você está sozinho, ela está sozinha... Duas solidões sentadas juntas. E cada um tornando o outro mais consciente da solidão dele ou dela. O amor é uma grande experiência. Faz você sentir uma verdade absoluta – que você nasceu sozinho, vive sozinho e vai morrer sozinho. E não há nenhum modo de afogar essa solidão em drogas – quer essas drogas sejam fabricadas pela natureza nas árvores, ou pelas fábricas ou no corpo. Não há meio de afogar essa solidão. A pessoa tem que entender essa solidão, tem que penetrar nessa solidão, tem que ir até seu núcleo. E quando você atingir o núcleo de sua solidão, de repente não é mais solidão, é a própria presença de Deus. Você é sozinho porque Deus é sozinho. Maomé diz freqüentemente: ‘Não há nenhum Deus exceto Deus. Deus é um’. Seguindo Maomé, um grande místico Sufi, Shapistari diz: ‘Conheça-se, veja-se, ame-se, seja’. Você já é isso, mas tem que penetrar no seu interior. Sua amada o fará consciente de que não há nenhum modo de sair e tornar-se um. O caminho é para dentro. Entre. O amor, naturalmente, conduz as pessoas à meditação. Os amantes tornam-se meditadores. Somente os amantes tornam-se meditadores. Por isso, Abhinava, é uma bênção você ter sentido tristeza durante aqueles belos momentos de amor. Compreenda isso. Entenda a mensagem. O seu inconsciente lhe deu a mensagem para agora voltar-se para dentro. O bem-amado reside em você; o bem-amado não está do lado de fora. Ele mora dentro do seu próprio coração. Nenhum outro amor e nenhum outro bem-amado irá satisfazê-la, exceto Deus – por isso a tristeza.” Osho – Sufis: o povo do caminho – capítulo 4 Editado em português pela Maha Lakshmi Editora em 1983. Edição esgotada há quase 20 anos. Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça. Todos os direitos reservados |
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