'Em busca de Sheela' é filme chapa-branca da Netflix
PATRÍCIA KOGUT
Quem viu “Wild wild country” (alguém não viu?), sucesso na Netflix, ficou conhecendo em detalhes a história do guru Bhagwan Shree Rajneesh (o Osho). No início da década de 1980, ele atraiu uma multidão de jovens para uma cidadezinha no interior do Oregon. Com o dinheiro arrecadado através da seita que liderava, construiu uma imensa fazenda agrícola sustentável. O projeto prosperou e deu certo até dar muito errado. A organização foi dissolvida sob acusações variadas, entre elas, de assassinatos. Osho era a estrela. Mas, por trás dele, havia Ma Anand Sheela. Ela era o cérebro de tudo. Agora, chega à Netflix o documentário “Em busca de Sheela”. O título desperta a curiosidade de quem acompanhou a série de 2018.
Reencontramos Sheela em Basel, na Suíça, onde dirige uma instituição para idosos e deficientes. Ela passou algum tempo na cadeia. Quando saiu, teve uma filha, que mora nos Estados Unidos. Conserva o ar angelical. Ele contrasta com a capacidade de disparar frases duras diante de qualquer tentativa de intimidação. Ela lança um livro sobre sua história, e o filme acompanha uma espécie de book tour pela Índia, onde ela não pisava havia décadas.
A produção mostra entrevistas de Sheela para plateias lotadas. Ela ouve perguntas mais ou menos incisivas sobre seu passado criminoso. Inteligente e rápida, escapa de todas com impressionante habilidade. Para usar uma gíria bem carioca, se comporta como um “peixe ensaboado”. Pode funcionar como estratégia de autodefesa, mas torna o documentário fraco e desinteressante. Não merece a sua atenção.
Fonte:https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/10/cultura/1525978848_689205.html
Sheela, o polêmico cérebro da seita da série ‘Wild
Wild Country’
Ex-secretária do guru Osho, famosa por uma série da
Netflix, explica sua vida e sua passagem pela prisão
Em 1981, uma pequena cidade no Oregon de apenas 40 habitantes, em sua maioria aposentados, foi “tomada” por um punhado de homens e mulheres vestidos de vermelho. Vinham da Índia e tinham comprado, por ordem da secretária do guru que seguiam – um homem de olhar perdido e barba abundante que se fazia chamar de Bhagwan, mais tarde conhecido como Osho (cujos best-sellers de autoajuda você pode ter visto em algum aeroporto) –, uma fazenda de 25.000 hectares na qual planejavam construir uma cidade. Eles a construíram. Tornaram realidade seu Shangrilá. Mas não se pode escapar do mundo pelo simples fato de querer fazê-lo. E quando se sentiram ameaçados pelos moradores, começaram a comprar propriedades na cidade. Eles se candidataram às eleições. Venceram. A cidade passou a se chamar Rajneeshpuram. O passo seguinte foi tentar conquistar o condado. Com ataques bioterroristas e tentativas de assassinato.
Wild Wild Country, série-documentário da Netflix dos irmãos Way que conta a história dos rajneeshees, o auge, o cisma e o fim da seita que realizou o maior ataque bioterrorista da história dos Estados Unidos – uma salmonelose que infectou 750 pessoas: uma cidade inteira –, devolveu a Bhagwan, e acima de tudo, a sua secretária, a ambiciosa Ma Anand Sheela, cérebro impiedoso e executora da coisa toda, a atenção perdida. “Não me arrependo de nada. Por que me arrependeria? Se não tivesse criado tudo isso, estaria em uma cozinha e não ousaria pensar por mim mesma.” Quem fala é a própria Sheela, que, transformada em uma controvertida celebridade que fascina quem assiste à série, deixou por alguns dias seu retiro em Zurique, que na verdade não é isso –“continuo vivendo em uma comuna, só que agora de deficientes aos quais ajudo”, diz: possui três residências –, para participar do festival literário Primera Persona, com sedes em Madri e Barcelona, que propõe um espetáculo em torno da palavra e do testemunho.
Como boa estrategista, alguém capaz de planejar a adoção de moradores de rua com o objetivo de torná-los cidadãos do condado que pretendiam conquistar para, uma vez usados, abandoná-los na cidade mais próxima, Sheela dirige cada pergunta para a resposta que lhe interessa dar. Assim, quando perguntada sobre a origem do dinheiro – a seita construiu um aeroporto, comprou aviões, abriu estradas pelas quais circulavam os 17 Rolls Royce do guru, criou sua própria polícia, comprou armas para todos –, ela diz simplesmente que eram “bons para os negócios”. “Tínhamos cafés, boates e organizávamos um festival de muito sucesso todos os verões”.
E o que diz sobre ter se tornado hoje um ícone feminista? Afinal, foi incrivelmente poderosa e fez o que quis, em teoria, por um homem. “Não vejo Bhagwan como um homem. Para mim ele era o dono do meu coração. Nós nunca competimos. É algo que aprendi com meus pais. Homens e mulheres estão aqui para se ajudarem.”
Ela tampouco faz uma única referência ao seu passado. Sobre como foi sua vida antes dos 16 anos, idade em que conheceu Bhagwan e se apaixonou “perdidamente” por ele. Tem alguma pendência com justiça? Foi condenada a 20 anos por tentativa de homicídio, assalto de primeiro e segundo grau de funcionários públicos, fraude de imigração, escutas telefônicas e o ataque bioterrorista de 1984. “Passei 29 meses na cadeia. E não os vivi como uma punição, mas como um aprendizado. Aprendi a ser paciente, algo que me serve para o que faço agora. Estou limpa”. E sobre o talento para a estratégia? “Não me considero uma estrategista. Aprendi tudo com Bhagwan. Ele entendia 100% da psicologia humana. Queria criar uma comunidade capaz de viver em harmonia. Eu só executava as ordens dele. E se fiz isso bem foi porque sou como a minha mãe, capaz de cozinhar para 20 a qualquer hora”, responde. Parece uma adorável aposentada. Se a tivessem deixado, teria levado um dos seus à Casa Branca? “Nunca pretendemos fazer carreira política, se entramos na política foi porque quiseram nos destruir.” A Sheela de três décadas atrás teria acrescentado: “E seremos nós os que acabarão com eles”. A de hoje sorri.
Fonte:https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/10/cultura/1525978848_689205.html
'Em Busca de Sheela' não desvenda os mistérios da ex-assistente de Osho
Documentário da Netflix traz estrela de 'Wild Wild
Country' em sua primeira viagem de volta para Índia após 35 anos
Por TETÉ RIBEIRO/Folhapress
Publicado em 04 de maio de 2021 | 11:35
Bhagwan Shree Rajneesh na série 'Wild Wild Country', da Netflix
Sucesso no mundo inteiro, "Wild Wild Country", contava, em seis episódios –de mais ou menos uma hora cada um deles– a saga improvável do controverso "guru do sexo" indiano Bhagwan Shree Rajneesh, mais tarde conhecido como Osho.
Nos anos 1980, Bhagwan
deixou um ashram em Pune, no estado de Maharashtra, na Índia, e se mudou para
uma comunidade utópica com seus seguidores nos Estados Unidos.
Rajneeshpuram foi
construída em uma fazenda comprada por seus discípulos americanos no condado de
Wasco, num deserto do estado de Oregon. A cidadezinha mais próxima se chamava
Antelope, e seus cerca de 40 moradores, assim como o governo do Estado, entraram
em um conflito ferrenho com os sanyassins, como são chamados os adeptos do
Rajneesh. O embate virou um escândalo nacional na época.
E,
no curso dos seis capítulos da série, Ma Anand Sheela surge como a personagem
mais carismática de todas, de longe. Osho aparece pouco, já que ficou entre os
anos de 1981 e 1984 numa fase de "comunhão silenciosa de coração a
coração". Ou seja, ele não falava. Como tinha um problema sério de coluna,
passava a maior parte do tempo deitado, descansando.
Sheela
conheceu Bhagwan aos 16 anos, apresentada por seu pai, ainda na Índia. Ela se
apaixonou por ele e virou sua discípula, mas logo passou a ser sua assistente
pessoal e segurança. Foi a grande responsável por organizar a mudança do guru
da Índia para os Estados Unidos. Lá, ficou mais importante ainda, se
transformando em porta-voz e principal estrategista da batalha entre os
rajneesh e os oregonianos.
Novinha, bonita e
boca-suja, Sheela xingava repórteres, ameaçava a população local, protegia
Bhagwan e sua comunidade com unhas e dentes e, quando os moradores originais do
condado ameaçaram vencer as eleições, o grupo orientado por ela tentou boicotar
a oposição na marra, envenenando a comida de um restaurante por quilo popular
no condado.
Não
tem personagem de novela que chegue aos pés da complexidade de Sheela. Numa
obra de ficção pareceria inverossímil demais, nenhum roteirista ousaria. No
final de "Wild Wild Country" ela briga com o guru e foge de
Rajneeshpuram. Ele decide voltar a falar e a xinga de ladra e prostituta, entre
outras delicadezas. Sheela é condenada a 20 anos de prisão por tentativa de
assassinato, escuta telefônica ilegal e fraude de imigração. Ficou detida 39
meses e foi liberada por bom comportamento.
Agora,
a Netflix apresenta "Em Busca de Sheela", procurando por Sheela, um
documentário de quase uma hora dirigido por Shakun Batra, um cineasta de
Bollywood. Ele e sua equipe a acompanham a uma viagem a Índia, seu país natal,
ao qual ela nunca mais tinha voltado, desde que deixou Pune ao lado de Bhagwan.
A ocasião é uma turnê de
entrevistas, mas não fica claro quem está pagando a viagem. Ela não tem nenhum
produto para promover no momento, seu único livro, "Don't Kill Him! The
Story of my Life with Bhagwan Rajneesh", foi lançado na Índia em 2013,
muito antes da estreia de "Wild Wild Country".
Sheela
está animada com a viagem e é tratada na Índia como um ícone feminista, sua
presença sempre um espetáculo. Sua primeira entrevista é para Karan Johar, um
Fábio Porchat local, que fez enorme sucesso com o programa "Koffee with
Karan", em que entrevistava, em tom de brincadeira, os grandes nomes de
Bollywood. Hoje em dia Karan é ele mesmo um dos diretores mais famosos de
Bollywood, e sua produtora, Dharmatic Entertainment, é uma das que assina este
documentário.
O
filme não chega a revelar grandes intimidades de Sheela, mas não deixa de ser
curioso. Ela parece menos briguenta hoje em dia, mas não virou uma velhota
boazinha. Na conversa com Karan, diz que era apaixonada por Bhagwan e ele por
ela, mas que nunca fizeram sexo. "Seus olhos eram provavelmente mais
bonitos que seu pênis", afirma.
Em tom desafiador, refuta
as onipresentes perguntas sobre seus crimes, seus arrependimentos e sua
redenção. Nega que tenha participado do envenenamento dos moradores do condado
de Wasco, diz que mandou instalar a escuta no quarto de Bhagwan por segurança,
com o consentimento dele, e que a imigração do grupo não foi fraudulenta, todos
tinham os vistos necessários. Afirma que as pessoas teimam em a ver como a
criminosa que ela nunca foi. Mas não faz questão de dar todas as respostas e
esclarecer todas as dúvidas a seu respeito. Tem um talento todo especial de não
desviar de nenhum assunto sem dizer nada relevante.
Também
não está no filme a explicação de como aquela garota agressiva e ambiciosa dos
anos 1980 virou uma cuidadora de idosos deficientes num dos países mais caros
do mundo. Sabemos que ela adotou uma filha, que só conhecemos por voz num
telefonema, e que tem um neto. Não tem mais nenhuma religião, não acredita em
mais nada além de "estar presente".
Termina
o documentário afirmando que está começando a se preparar para sua partida e
que prefere essa atitude a negar a morte.
Em seu quarto e em seu escritório, na Suíça, ainda há fotos de Osho nas
paredes, e ela conta que, um ano depois de a xingar violentamente, o guru disse
que não conseguiria ter feito nada do que fez se não fosse por ela.
Os dois nunca mais se
encontraram. Osho foi preso quando tentava fugir dos Estados Unidos num avião
alugado em 1985 e morreu em 1990, de volta ao seu ashram em Pune, o Osho
Meditation Resort, que existe até hoje mas está fechado no momento por causa da
pandemia.
O
interesse e a curiosidade a respeito de Sheela não serão saciados por esse
documentário. Mas tem mais coisa vindo aí. Além do curta "Wild Wild
Country: What Happened to Sheela?", produzido pela BBC, que pode ser visto
no YouTube, foi anunciada uma adaptação da história de Osho e Sheela produzida
pela Amazon Studios, com Priyanka Chopra Jonas no papel da nossa anti-heroína
favorita.
*
EM BUSCA DE SHEELA
Onde: Na Netflix
Classificação: 14 anos
Produção: Índia, 2021
Direção: Shakun Batra
Avaliação: Regular
Fonte: https://www.otempo.com.br/entretenimento/em-busca-de-sheela-nao-desvenda-os-misterios-da-ex-assistente-de-osho-1.2480684
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