DIMENSÕES DA CONSCIÊNCIA - OSHO

 



DIMENSÕES DA CONSCIÊNCIA-OSHO 


"A vida é uma dádiva, mas a vida é uma oportunidade aberta. O significado não é uma dádiva, é uma busca. Aqueles que buscam certamente encontrarão. Mas aqueles que simplesmente esperam continuarão sem ele. O significado, o 
logos, tem que ser criado pelo homem. O homem tem que se transformar nesse significado, o qual não pode ser algo exterior a ele, mas que lhe seja interior.

O Ser interior do homem tem que ser iluminado.

Antes de entrarmos nesse sutra, algumas coisas nos ajudarão a compreender o homem, porque só assim o trabalho será possível.
A primeira coisa é que ele é um continuum espaço- tempo de quatro dimensões, assim como toda a existência. Três dimensões são de espaço, uma é de tempo. Elas não são separadas: a dimensão de tempo é apenas a quarta dimensão do espaço. As três dimensões de espaço são estáticas; a quarta dimensão, a do tempo, traz movimento, faz da vida um processo. A existência então, se torna um evento.

E assim, é o homem: o universo em miniatura. Se você pudesse compreender o homem em sua totalidade, teria compreendido toda a existência. O homem contém tudo - em semente. Ele é um universo condensado. E essas são as suas quatro dimensões.

A primeira dimensão é o que Patanjali chama de sushupti, sono profundo, no qual nem o sonho existe. A pessoa está em silêncio completo, nem um pensamento a abala, nem o vento sopra. Tudo está ausente. Essa ausência, no sono profundo é a primeira dimensão. É daí que começamos. E precisamos entender nosso sono; só assim, poderemos passar por uma transformação. Só assim, poderemos construir nossa casa sobre uma rocha; de outro jeito, não. Mas pouquíssimas pessoas compreendem o próprio sono.

Você dorme todos os dias; passa um terço da sua vida em sono profundo, mas não compreende isso. Você entra nesse sono todas as noites,e também ganha muito com isso. Mas é totalmente inconsciente, você não sabe exatamente onde esse sono o leva. Ele o leva à dimensão mais simples da sua vida - a primeira. Ela é muito simples porque não tem dualidade. É muito simples porque não há complexidade nela. É muito simples porque só existe a unicidade. Você ainda não despertou como um ego; ainda não se tornou dividido - mas a unidade é inconsciente.

Se essa unidade se tornar consciente, você terá samadhi, em vez de sushupti. Se essa unidade se tornar consciente, iluminada, então você terá alcançado Deus. É isso que Patanjali diz: sono profundo e samadhi, o estágio supremo da consciência são muito parecidos. Parecidos, porque são simples. Parecidos porque em ambos não há dualidade. Parecidos, porque em ambos o ego não existe.

No princípio, o ego ainda não despertou; no segundo o ego se dissolveu - mas há também uma grande diferença; A diferença é que, em samadhi você sabe o que é o sono. Mesmo enquanto dorme, sua consciência existe, sua percepção existe. Sua percepção continua acesa como uma pequena luz dentro de você.

Perguntaram a um mestre zen... É um famoso ditado zen:
Aprendemos que antes de estudarmos o zen, as montanhas são montanhas, e os rios são rios. Enquanto estamos estudando o zen, contudo, as montanhas não são mais montanhas e os rios, não são mais rios. Quando nosso estudo zen se completa, as montanhas são novamente montanhas e os rios são novamente rios.

- O que significa isso? - um discípulo perguntou a um grande Mestre.
O Mestre explicou: 
- Significa simplesmente que o primeiro e o último estado são parecidos. Mas no meio....o distúrbio. Primeiro as montanhas são montanhas e depois, no fim, elas são montanhas novamente. Mas no meio, as montanhas não são mais montanhas, e os rios não são mais rios - tudo está perturbado, nebuloso. Essa nebulosidade, essa confusão, esse caos, existe apenas no meio. Em sushupti tudo é como deveria ser; em samadhi novamente, tudo é como deveria ser. Entre os dois está o problema, está o mundo, está a mente, está o ego, está todo tipo de amargura, inferno.

Quando o Mestre explicou isso, o discípulo exclamou:
- Bem, se isso for verdade, então não há diferença entre o homem comum e o homem iluminado.
- Pois é - replicou o Mestre - Não há diferença mesmo. A única coisa é que o homem iluminado está seis polegadas acima do chão.

Mas essas seis polegadas fazem toda diferença. Por que o Mestre está a seis polegadas acima do chão? Ele vive no mundo e no entanto, não está no mundo - essas são as seis polegadas, a diferença. Ele come e no entanto não é o comedor, ele continua sendo uma testemunha - essas seis polegadas. Ele está doente, conhece a dor da doença - mas ainda assim não tem dor, essa diferença, essas seis polegadas. Ele morre, sabe que a morte está acontecendo e no entanto, não está morrendo, essa diferença - essas seis polegadas. Ele está adormecido, mas não dorme, está alerta."





"O primeiro estado é sushupti; Nós o chamamos de a "primeira dimensão". É não divisibilidade sem sonho; é a unidade inconsciente, é a ignorância, mas muito gloriosa. Mas a ignorância também é inconsciente. Só de manha, quando você acorda novamente, começa a sentir que dormiu bem à noite, que esteve em alguma terra distante, que está rejuvenescido, sentindo-se renovado, jovem, vivo. Mas só de manhã - não exatamente enquanto está dormindo, apenas depois. Permanece apenas uma fragrância na memória. Ela o lembra de que você esteve em alguma profundeza interior, mas onde? O quê? Você não consegue decifrar, não consegue explicar; é só uma vaga lembrança, uma leve recordação de um lugar que você visitou em um bom espaço. Não há ego ainda; por isso, não há amargura - pois a amargura não é possível sem o ego.

Esse é o estado em que as rochas e as montanhas e os rios e as árvores existem. É por isso que as árvores são tão belas - uma glória inconsciente as cerca. É por isso que as montanhas são são silenciosas; estão em sushupti em sono profundo contínuo. É por isso que quando você vai ao Himalaia sente um silencio eterno - um silencio virgem. Ninguém até hoje foi capaz de perturbar esse silencio. Pense nas árvores, e começará a se sentir fluindo, Toda a natureza existe no primeiro estado; por isso a natureza é tão simples.

A segunda dimensão é a do sonho - que Patanjali chama de swabha. O primeiro distúrbio no sono é o sonho. Agora você não é mais um; a segunda dimensão chegou. Imagens começam a flutuar em você; o começo do mundo. Agora você é dois: o sonho e o sonhador. Agora você está vendo o sonho e você é o sonho também. Agora você está dividido. O silencio do sono profundo não existe mais, entrou o distúrbio, porque houve a divisão.

Divisão, dualidade, distúrbio - esse é o significado do sonho. Embora a dualidade ainda seja inconsciente, ele existe. Mas não de forma consciente - você não sabe a respeito dela. O tumulto está lá fora, o mundo nasceu, mas as coisas ainda estão indefinidas, estão saindo da fumaça; as coisas estão tomando forma. A forma ainda não é clara, ainda não é concreta, mas por causa do dualismo - embora seja inconsciente - entrou a amargura. O pesadelo não está longe. O sonho virará um pesadelo.

É aí que vivem os animais e os pássaros. Eles também possuem uma beleza, porque estão muito próximos do sushupti. Os pássaros numa árvore são apenas sonhos pousados em sono. Os pássaros fazendo seus ninhos numa árvore, são apenas sonhos fazendo seus ninhos em sono. Há uma espécie de afinidade entre os pássaros e as árvores. Se as árvores desaparecerem, os pássaros desaparecerão também; e se os pássaros desaparecerem, as árvores não serão mais tão bonitas. Há um profundo relacionamento; é uma família. (...) Os pássaros e os animais não precisam de psiquiatras; não precisam de um Freud, um Jung, um Adler. São totalmente saudáveis. (...)
Na natureza eles são muito quietos, felizes, saudáveis, mas essa saúde também é inconsciente - eles não sabem o que está acontecendo.

Esse é o segundo estado: quando você sonha. Essa é a sua segunda dimensão. A primeira, sono sem sonho, sushupti - unidimensional simples; não há o "outro". Segunda dimensão sonho, swabha - bidimensional; o sonhador e o sonhado, o conteúdo e a consciência - surge a divisão; o que olha e o que é olhado, o observador e o observado. Entra a dualidade. Essa é a segunda dimensão.

Na primeira dimensão só existe o tempo presente. O sono não conhece o passado nem o futuro. Claro que como não conhece o passado e o futuro, tampouco pode conhecer o presente, porque o presente só existe no meio. Você tem de estar ciente do passado e do futuro, só assim pode estar ciente do presente. Como não existe passado, nem futuro, o sono só existe no presente. É puro presente, mas inconsciente.
Com o sonho, entra a divisão. Com o sonho, o passado se torna muito, muito importante. O sonho é orientado pelo passado; todos os sonhos vêm do passado. Eles ainda são fragmentos do passado flutuando; o pó do passado que ainda não se assentou.(...)

Tudo o que você sonha tem a ver com seu passado(...) Está na sua mente. Talvez você nunca tenha sido tão sincero em seu estado de vigília quanto no sonho. Todos os sonhos flutuam a partir do passado. Com o sonho, o passado se torna essencial. Assim o presente está aí, o passado também.
Com a terceira dimensão, o estado de vigília que Patanjali chama de jagrut entra a multiplicidade. A primeira é a unidade, a segunda é a dualidade, a terceira é a multiplicidade. Surge grande complexidade. O mundo inteiro nasce. No sono, você vai fundo dentro de si mesmo. No sonho, já não vai mais tão fundo, mas no entanto, não está fora - está bem no meio, no limiar. Com a consciência em vigília, você está fora de si mesmo, entra no mundo.(...)

Em sono profundo você está dentro. Na vigília você está fora. No sonho você está no meio, pairando, ainda não decidiu aonde ir, indeciso, em dúvida, incerto. No estado de vigília entra o ego. No estado de sono, há apenas fragmentos rudimentares do ego despertando, mas eles se assentam no terceiro. O ego se torna o fenômeno mais concreto, mais sólido, mais decisivo. E então, tudo o que você fizer, fará por causa do ego.

O terceiro estado traz um pouco de consciência - só 1%, não muito, uma consciência titubeante, momentânea. O primeiro estado era absolutamente inconsciente; o segundo era o inconsciente perturbado; o terceiro é o primeiro vislumbre de consciência. E por causa disso - o vislumbre momentâneo da consciência - esse 1% que entra cria o ego. Agora, chega também o futuro.

Primeiro há somente o presente inconsciente; depois há o passado inconsciente; agora entra o futuro. Passado, presente, futuro e toda complexidade do tempo giram em torno de você. Esse é o estado em que as pessoas ficam estagnadas. Se você construir sua casa com essas três dimensões, estará construindo-a sobre a areia, pois todo o seu esforço será inconsciente.

Fazer algo inconsciente é fútil - é como atirar flechas no escuro, sem ver o alvo. Não produzirá grandes resultados. Primeiro, a luz é necessária. O alvo tem de ser procurado. E é necessário luz suficiente para você caminhar em direção ao alvo com consciência. Isso só é possível quando a quarta dimensão começa a funcionar. Raramente acontece, mas quando acontece, nasce o significado, o logos.
Você terá uma vida sem sentido se viver apenas com essas três; terá uma vida sem sentido porque não será capaz de criar a si mesmo. Como poderá criar, em meio a tanta inconsciência?

A quarta dimensão é a da percepção, do testemunho - que Patanjali chama de turiya. (...) Essa quarta dimensão tem de ser compreendida o mais profundamente possível, porque essa é a meta. É pura consciência, simplicidade novamente. A primeira dimensão é simples, mas inconsciente; a quarta é simples, mas consciente. Unidade de novo, glória de novo - com uma única diferença: agora é tudo consciente, a luz interior queima, acesa. Você está plenamente alerta. Não é uma noite escura dentro de você, mas uma noite de lua cheia. É isso que significa iluminação: iluminação interior.

Novamente só resta um tempo - o presente, mas agora é o presente consciente. O passado não paira mais em volta. Um homem consciente não pode se mover no passado, porque este não existe mais. Um homem consciente não pode se mover no futuro, porque ele ainda não aconteceu. Um homem consciente vive no presente aqui e agora. O aqui é seu único espaço e o agora é seu único tempo. E porque está só no aqui e agora o tempo como tempo em si desaparece e nasce a eternidade, a atemporalidade. E quando o indivíduo está totalmente alerta, o ego não pode existir, pois ele é uma sombra projetada na inconsciência. Quando tudo está iluminado, o ego não pode existir. Você poderá ver a falsidade dele, a condição de pseudo dele. E nesse ato de ver, ele desaparece."



"Essas são as quatro dimensões da consciência humana. E as pessoas vivem apenas nas três primeiras. A quarta carrega o significado; por isso, as pessoas vivem apenas nas três levam uma vida sem sentido. Elas sabem disso. Você sabe disso! Se você olhar para sua vida, não encontrará nenhum sentido nela, apenas um caos, uma progressão acidental de coisas. Uma coisa é seguida de outra, mas sem consistência, sem relevância. Uma coisa é seguida da outra, acidentalmente.

É a isso que se refere Jean-Paul Sartre, quando diz que "O homem é uma paixão inútil" - o homem é acidental. Sim, ele é verdadeiro quando fala das três dimensões: primeira, segunda e terceira; mas não é verdadeiro quanto à quarta. E não pode dizer nada à quarta. E não pode dizer nada da quarta dimensão porque ainda não a experimentou. Só um Cristo, ou um Buda podem falar da quarta dimensão.

A consciência de Cristo é da quarta; a de Buda também. Confinar-se às três primeiras é estar no mundo. Entrar na quarta é entrar em nirvana , ou chamá-lo de 'Reino de Deus", ou reino dos céus. São apenas expressões diferentes para a mesma coisa.

É bom lembrar: a segunda dimensão é uma sombra da primeira: sono e sonho. Os sonhos não podem existir sem sono; o sono é uma necessidade, os sonhos são secundários - apenas uma sombra. O sono, portanto é primário, os sonhos são secundários -apenas uma sombra. A terceira é a sombra da quarta, porque a terceira só pode existir se houver alguma consciência. Um pouco de consciência tem de existir; só assim haverá a terceira dimensão.(...)

Sua vida parece uma vida de sombras, porque você está vivendo na terceira dimensão. E a terceira é a sombra da quarta. Só com a quarta você chega em casa. Só com a quarta você é fundamentado na existência.

A primeira é escuridão absoluta, a quarta é luz absoluta. Entre essas duas estão suas sombras. Essas duas sombras se tornam tão importantes para nós que pensamos que é toda a vida. É por isso que os hindus chamam o mundo de maia, ilusão. Por causa dessas duas dimensões que se tornam predominantes - a segunda e a terceira. Perdemos de vista a primeira e ainda não procuramos a quarta.

Outra coisa: Se você encontra a quarta dimensão, você terá encontrado a primeira. Só aquele que encontrou a quarta dimensão poderá saber da primeira, porque quando você entra na quarta, pode adormecer e continuará alerta. Krishna define o iogue no Gita como "aquele que está desperto enquanto dorme".(...)

A vida é absolutamente livre. Mas para essa liberdade, primeiro você terá de libertar sua mente. Lembre-se deste critério: quanto mais consciente você estiver, maior será a sua glória."

Osho em A flauta nos lábios de Deus.

Fonte:https://ventosdepaz.blogspot.com/2016/03/dimensoes-da-consciencia-33-osho.html


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