O OUTRO EU - UM - OSHO

 Um

Um

Exteriormente estamos separados um do outro; interiormente somos um. Eis porque a consciência é universal. Isso não significa que ela se torna externa a você. Isso simplesmente significa que somente a consciência é, somente a perceptividade é: não há nenhuma distinção do interior e exterior.

A distinção entre interior e exterior surge porque existe uma mente que está dividindo as coisas, tornando as coisas externas e internas. Com consciência a mente desaparece e todas as distinções do interior e do exterior se vão. Fica somente uma unidade.

Por milhares de anos na India as pessoas têm estado trabalhando sobre o mesmo problema e eles nem mesmo dizem: unidade permanece – devido a uma dificuldade lógica,- se existe um, isso implica que deve haver dois, que deve haver três. Não podemos existir sem todo o espectro de números. Que significado terá o um, se não houver o dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez ? Desse modo, que significado terá o um ? Não terá qualquer significado.

Portanto, na Índia eles não dizem: somente a unidade permanece – eles dizem: O que permanece é a não dualidade. Apenas uma maneira indireta de não ser apanhado em nenhuma dificuldade lógica. O que permanece é um fenômeno não dual. Isso não é dois. Eles não dirão que isso é um ; eles dirão que isso não está dividido. E penso que eles têm um certo insight nisso.

Quando você diz – não dual – os outros números não estão implicados. Mas quando você diz – um – os outros número estão implicados. Porém você não precisa ficar maluco, apenas fique atento e não se incomode com o que está dentro e com o que está fora. Sua atenção tornará claro para você que essa é uma existência não dual: nada está dentro, nada está fora.

Em Jaipur na Índia existe um palácio feito por um rei místico. Ele realmente era um grande arquiteto; ele planejou Jaipur. Seu nome era Jai Singh; daí o nome da cidade. Jaipur é a única cidade planejada da Índia, e tão belamente planejada ! A ideia dele era superar Paris, e ele teria conseguido se não tivesse morrido. A cidade ficou incompleta, Mas mesmo incompleta, a cidade mostra que ele estava no caminho certo para superar Paris.

Ela era de uma cor, a cor vermelha do sannyasin – toda uma cidade de rochas vermelhas. Todas as casas, todas as lojas, feitas exatamente do mesmo jeito, para lhe dar o sentimento de que tudo é um: não há qualquer possibilidade de dois. E as estradas são tão bonitas. Bem no meio da estrada estão árvores muito frondosas – as estradas são bastante largas – e de ambos os lados o pavimento está coberto para que na estação chuvosa você não precise caminhar com um guarda-chuvas… ou debaixo de um sol quente com um guarda-chuvas. Você não necessita de guarda-chuvas em Jaipur. E tudo é exatamente igual, feito da mesma pedra vermelha.

Esse homem estava tentando fazer uma cidade que não houvesse nenhuma diferença de nenhum tipo. Só uma árvore era usada em todas as estradas, por milhas. Só uma cor, só um tipo de rocha era utilizada, e o mesmo projeto – um lindo projeto.

Ele fez um templo com pedras vermelhas externas, e por dentro havia pequenos espelhos… milhões de espelhos no interior. Então quando você entra você se vê refletido em milhões de espelhos. Você é um, mas seus reflexos são milhões.

Dizem que uma vez um cachorro penetrou e se matou durante a noite. Não havia ninguém lá: o guarda havia deixado o templo trancado, e o cachorro ficou dentro. Ele teria latido para os cachorros – milhões de cachorros. E ele pulava de um lado para o outro e se batia contra as paredes. E todos aqueles cães latindo… Você pode imaginar o que teria acontecido ao pobre cão: por toda a noite ele latiu e ele lutou, e ele se matou jogando-se contra as paredes.

Pela manhã quando a porta foi aberta o cachorro foi encontrado morto e seu sangue espalhado por toda parte – nas paredes – e os vizinhos disseram que por toda noite ficaram perplexos com o que estava acontecendo. Esse cachorro continuou latindo.

Esse cachorro deve ter sido um intelectual. Naturalmente ele pensou – tantos cachorros, meu Deus ! estou só e é madrugada e as portas estão fechadas, e cercado por todos esses cães… eles vão me matar ! E ele se matou ; não havia nenhum outro cachorro.

Esse é um entendimento básico e essencial do misticismo: as pessoas que estamos vendo ao redor são apenas reflexos. Estamos desnecessariamente latindo um para o outro, desnecessariamente lutando um com o outro, desnecessariamente com medo um do outro. Existe tanto medo que estamos acumulando armas nucleares uns contra os outros – e há somente um cão, e todos os outros são apenas reflexos.

Do jeito que o cachorro morreu, há toda possibilidade de que o homem venha a morrer da mesma maneira. E contra quem? Contra seus próprios reflexos.
 

Osho, The Path of the Mystic, Discurso #43

 

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Fonte:https://www.osho.com/pt/read/featured-articles/other-myself/one

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